Poucas vezes, isolados pelo oceano atlântico,
percebemos na prática a necessidade fundamental da tolerância religiosa.
A intolerância, o egoísmo e o machismo de uma sociedade estão
profundamente atrelados ao seu isolamento cultural. Quando os fluxos
migratórios nós obrigam a conviver com culturas e crenças diferentes
temos apenas dois caminhos a percorrer. A opção combativa, da
rivalidade, do ódio, que não passa de um caminho sem fim, pois é
impossível silenciar culturas milenares através da força, ou, a
convivência fraterna. Quando temos amigos que pensam diferente de nós e
mesmo assim somos capazes de conviver nos respeitando e, até mesmo,
tendo momento de alegria juntos, percebemos quanto o ódio que leva ao
conflito é absurdo. E não alimentamos mais essa via, pois queremos ver
aqueles que amamos bem, mesmo que sejam um pouco diferentes de nós. Eis a
necessidade do intercâmbio cultural.
O
comportamento intolerante nasce em mentes atrasadas, pouco curiosas em
obter novos aprendizados, preferindo adotar uma postura retrógada em
afirmar que no passado tudo era melhor. E vemos isso em todos os
domínios do conhecimento e relacionamento humano. O mundo muda
constantemente independentemente de nossa opinião ou vontade. Essa
miscigenação cultural é necessária ao aprendizado da fraternidade entre
os povos, faz parte da evolução social. Os atritos que surgem também são
inerentes ao progresso, pois são momentos de discussão, de adequação as
encruzilhadas éticas que essa convivência suscita. O progresso não
ocorre em momentos específicos, pois sua ação é ininterrupta e todos nós
somos personagens ativos nesse processo.
Quanto
mais rico culturalmente o indivíduo maior sua capacidade de compreender
o outro, colocando-se em seu lugar, de se adaptar, de progredir e
crescer. Somente pessoas cunhadas na escola da tolerância são capazes de
compreender que existem momentos em que é preciso fazer silêncio para
não produzir conflitos e deixar que o tempo faça a sua parte. Nenhuma
mudança acontece sem a ação do tempo. Cada ser tem seu próprio ritmo de
reflexão, alguns precisando de mais séculos que outros. A evolução tem
feito obsoleto tudo àquilo que não contribui ao progresso da humanidade.
Os absurdos que ainda assistimos ao ligar a televisão são questões que
precisam ser debatidas e que contribuem para moldar nossos pensamentos.
A
nossa falta de compreensão do que significa uma religião faz com
vejamos alguns desses absurdos. Se aproximar de Deus é algo íntimo e
intransferível, ninguém se põe a caminho dessa fraternidade através de
outras pessoas. Estar de consciência tranquila e bem consigo mesmo é
única forma de estar bem também com nosso próximo. Qualquer crença que
não nos propiscie isso deixa de cumprir o papel de uma religião, pois ao
invés de nos levar a calma nos impele a culpa e ao preconceito.
Religião é um conceito íntimo que nos impulsiona a fraternidade com os
outros, quem compreende isso deixa de se afirmar crente desta ou daquela
forma de interpretar o mundo, pois essa pessoa está mais próxima de
Deus do que qualquer texto ou pessoa que tenha a pretensão de lhe
indicar esse caminho.
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